segunda-feira, 26 de agosto de 2013

A realidade sobre a consulta médica

Este é um pai pronto pra trollar o médico


Olá a todos,

Atrás da mesa do consultório acontecem muitas situações bizarras, além de muita trollação por parte dos pacientes, porém como é a minoria das vezes, as pessoas em geral nem fazem ideia. É verdade que menos de 5%, fazendo uma estatística por alto, dos pacientes são hostis, porém são esses poucos que te desanimam. Isso me lembra recentemente o caso do Corey que decidiu fechar o blog pelo desanimo com os trolls...

Em geral a consulta se compõe de anamnese, que é o período em que colhemos as informações; é a entrevista propriamente dita com o paciente, seguida pelo exame físico do mesmo. Na pediatria, óbvio, a anamnese é com os pais, mas o exame é com próprio paciente. Muita gente me pergunta como eu faço pra aguentar o choro das crianças, mas sinceramente (a não ser que a criança me agrida fisicamente, que me deixa puto, mas deve ter acontecido apenas umas 3 vezes na vida) não me incomodam. Eu entendo que o choro é uma reação natural, advindo pelo medo do desconhecido, de dor etc. Se eu tivesse aquela idade provavelmente faria o mesmo. Além disso, terminado o exame físico, em geral o choro passa, então não tem muitos problemas...

Agora o problema surge que após identificada a doença (ou ausência dela), e explicações devidas, os pais não admitem o diagnóstico e começam a te hostilizar, por vezes te obrigando a passar algum outro remédio. Essa atitude é muito psicopata. Vou dar um exemplo, comum no consultório pediátrico:

Os pais de primeira viagem leva seu neném de 6 meses de idade, preocupado com "ronquerinha no peito". Sem febre, apetite normal, sem tosse, sem cansaço. Você examina o lactente e percebe que não há nada de diferente no pulmão dele, sem sinais de bronquite, porém ele tem uma obstrução nasal cuja passagem do ar emite um som, e que reverbera no peito, fazendo-se sentir também no peito. Nada demais, um soro fisiológico no nariz resolveria o problema. 

Quando você explica a situação aos pais, vira e mexe aparece aquele que fica puto e começa a reclamar. Segundo ele "o soro não vai resolver nada", e o "problema no pulmão do menino?", eu passei 6 anos de medicina (pra eles a residência está incluso) pra dizer isso? Aí eu tento explicar novamente o problema, ensinando até fisica de 2o grau pra ver se a ficha do sujeito cai, porém a cada tentativa de explicação ele fica mais puto, duvidando da sua capacidade técnica, e te obrigando a "passar um xarope", como se o xarope fosse uma benção enviada pelos deuses e resolvessem todos os males. Mesmo tentando mostrar que não podemos passar xaropes pra menores de 1 ano de idade devido ao risco, ele não diminui a insistência, e continua despejando toda sua hostilidade até ver que não vai conseguir mais nada, e deixar o consultório com a criança, fulo da vida.

Aí está, um problema simples de resolver, mas que os pais por ignorância não aceitam. E isso se repete em inúmeras outras situações. Com o tempo reparei que nesses casos, quando os pais já apresentam toda essa resistência, é  melhor nem tentar ficar explicando muito, porque além de não adiantar, costuma deixar os pais mais hostis, porque não gostam de ser contrariados. Agora, a pergunta que fica é a seguinte; se você procurou o médico porque é leigo no assunto, e quer que ele descubra o que a criança tem e resolva o problema, porque quando o profissional te explica a situação, você não aceita? É lógico, repito aqui, são a minoria dos casos, mas são esses que te desanimam... Porque te hostilizam abertamente, te xingam, saem pra reclamar que pagou pra não receber o que queria... Se a criança necessita de um soro no nariz, vou passar o antibiótico só porque quer? Só porque pagou? E os efeitos colaterais, você não se preocupa? E a resistência bacteriana? E mesmo com as explicações, você insiste para que o profissional resolva o "seu problema", e não o da criança?

Isso é muito frustrante, e quando começa a ir se acumulando, te desanimam cada vez mais.... Será que vou passar 30, 40 anos da minha vida fazendo isso? Tentando fazer o melhor pra criança, quando os pais apenas querem o que é melhor pra eles, o que os deixa mais confortáveis? Será que o melhor seria fazer como alguns (muitos) colegas pediatras que passam o "cala a boca" pros pais, prejudicando a criança, só pra eles pararem de "encher o saco"? Não, não vou aturar isso pra sempre. Foi aí que decidi que eu poderia empreender, e ganhar dinheiro de outras formas, sem depender essencialmente da minha atividade médica. E optei por iniciar outra atividade...

Em post futuro explicarei como foi o processo de escolha, as dificuldades e os erros cometidos.



5 comentários:

  1. é isto aí Doctor! no meu tempo de faculdade tivemos médicos como professores em algumas matérias. O que eles relatavam era esta intransigência dos pacientes de querer saber mais ou desvalorizar. Houveram dois professores que me chamaram a atenção.

    1) O Professor foi chamado pelo celular para atender uma emergência - um dente inflamado em pelo feriado - ele chegou ao consultório, viu a criança chorando, chamou para atendimento e o pai. Calma doutor, quanto vai custar a emergência? R$300,00. e o pai surtou, _o senhor é louco! onde já se viu? Ao que ele entregou a broca ao pai e disse_então o senhor resolva o problema.

    e um segundo caso em que a mãe sismou que tinha que dar antibiótico. quando o quadro clínico era estável e a criança não tinha febre nem toxemia.
    _A senhora é médica? Não, mas....
    _Quantas criançs a senhora já tratou? Nenhuma só que...
    _Se a senhora não é médica, nem nunca tratou nada eu acho que tenho mais capacidade para decidir o que é melhor para a sua filha, não acha? :)

    Gostei do assunto do seu post.

    um grande abraço

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  2. Olá Mécido PI

    Vc é especialista em pediatria? Poderia dizer porque atualmente há tão poucos médicos atuando nessa área?

    Também gostei do assunto do post. Não é fácil encontrar os bastidores da medicina na blogosfera.

    Abraços

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    Respostas
    1. Não tinha visto seu post anterior. Ignore essas perguntas.

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  3. A Clinica de Cardiologia é o lugar mais seguro para tirar suas dúvidas relacionadas à doenças do coração. Agende um horário!

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