sábado, 31 de agosto de 2013

Fechamento Agosto 2013

Olá a todos,

Esse é  primeiro mês que divulgo minha carteira, apesar de ter iniciado um acompanhamento mais sério desde abril 2012.

Não houve nenhum aporte esse mês,  por conta da franquia que estou implementando. Vocês irão notar também que tenho uma boa parcela na poupança, dinheiro também já reservado pra abertura da franquia. Provavelmente farei saques vultuosos nos próximos meses, e o desempenho vai piorar bastante, mas é por uma boa causa.


Essa primeira planilha é o de rendimento da poupança... Nada a declarar, crescimento normal.


Já no campo das ações, tivemos um rendimento razoável. 2,53% de rendimento no mês, o que novamente me deixou positivo no histórico. Ainda não deu pra ficar positivo no ano, mas a queda é menor que o ibov, então não está de todo ruim.  Aqui segue a distribuição das ações:


Esse mês destaque para desempenho de VALE5 e BBAS3. Se repararem bem, basicamente 3 ações dominam a carteira, no caso VALE5, BBAS3 e MDIA3, seguido um pouco de perto por VIVT4 ou seja, dependo do desempenho delas pra performar bem. A ideia é ir aumentando a participação das outras aos poucos, mas como temos a história da franquia, isso vai demorar um pouco. Destaque para dividendos de R$ 500 do BBAS3, além de R$ 128 de aluguel de MDIA3 + um gatinho pingado de R$12 de BEMA3.


No consolidado temos 1,59% no mês, que considero bom se contarmos para apenas 1 mês, porém regular pra ruim se considerarmos o IBOV com seus mais de 3%. De qualquer forma dá pra ver uma progressiva melhora no ano, onde chegamos a -1,27%.

Mês que vem certamente o desempenho vai piorar pois os saques vão começar. Tomara que as ações continuem performando bem, pra pelo menos dar uma animada. É isso, abraço a todos!

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Como escolher uma franquia?


Olá pessoal,

No último post eu disse que havia decido não depender apenas de medicina, e iniciar uma atividade empreendedora. Acabei optando em abrir uma franquia, mas a primeira dúvida é: porque abrir uma franquia ao invés de uma loja convencional? Segue aqui uma pequena comparação entre os dois empreendimentos.

Uma franquia, ao invés de um negócio individual, possui a vantagem de que quando você a compra está adquirindo o direito do uso da marca. Muitas vezes, apenas o nome te faz vender o produto. Quando você abre um Mc´Donalds, a pessoa já tem noção do que é o produto, e mesmo que ela não tenha experimentado na sua loja, ela já o conhece. Quando você abre um carrinho de hamburguer próprio, a pessoa será obrigada a consumir o seu produto antes de saber se é bom ou não. A marca sozinha te abre todo um leque de oportunidades que num negócio convencional você levaria um tempo até conseguir (isso, lógico, se seu produto for bom e com preço competitivo).

Ao comprar uma franquia, além da marca, você adquiri também todo o know-how do negócio. Eles já tem um modelo de negócios testado e aprovado, que já deu certo, então toda a parte arquitetônica, estratégia de vendas, embalagens, já passaram pelo crivo dos consumidores. Além disso o seu produto também já é consagrado, o que aumenta as suas chances de sucesso. Só pra ilustrar, enquanto uma empresa convencional tem uma taxa de sucesso de 45%, o índice de fechamento de empresas franqueadas é de apenas 2,5% ao ano*.

Uma franquia em geral te dará um suporte para que seu negócio vingue, pois é interesse deles. Quaisquer dúvidas que você tiver, sobre uma campanha de marketing, por exemplo, contará com o apoio e experiência da franquia que tentará te orientar da melhor maneira possível. Eles não fazem isso porque são "bonzinhos". Eles o fazem porque o seu sucesso, é o sucesso deles; você comprará mais produtos para revender, e assim o lucro deles aumentará.

Eu falei dos pontos positivos, mas é lógico que também existem alguns pontos negativos, e vale a pena colocá-los na mesa. Em comparação ao modelo de franquia, a empresa convencional tem um custo de instalação e manutenção em geral bem inferior. Existe uma taxa que você paga que é a "taxa de franquia", um valor apenas pra te dar o direito de usar a marca. Além disso existem os royalties, e taxa de propaganda, que a maioria das franquias cobra. Sim, isso aqui é o capitalismo, e toda vantagem que a franquia pode te proporcionar tem um preço.

Na maioria das vezes a franquia também exige que o seu modelo de negócios esteja dentro daquilo que eles preconizam, e isso pode tirar um pouco da sua liberdade. Como comentei anteriormente, esse modelo tem a vantagem de já ser consagrado e vencedor, porém ele pode muitas vezes não te dar uma liberdade que você faz questão. Como exemplo, a franquia "Cacau Show" é conhecida como um modelo "meio nazista" pelos franqueados; eles te acompanham com as câmeras dentro da sua loja, e mesmo como dono você não tem liberdade para sair e fazer o que bem entender. Se você não obedecer ao preconizado eles te pressionam e muitas vezes até cancelam o direito da franquia. Na minha cidade, continuando o exemplo da Cacau Show, o franqueado tem duas lojas, uma no shopping e uma no centro. Acontece que a loja do centro da cidade da prejuízo o ano todo, exceto na Páscoa e no Natal, porém o franqueado não tem o direito de fechá-la. Sim, a Cacau Show não permite que ele feche a loja que dá prejuízo e ficar apenas com a superavitária; pra ter o direito de continuar usando o nome da marca ele é obrigado a manter as duas. Pra Cacau Show é bom pois ele é obrigado a continuar comprando chocolates na loja antiga, e dar lucro pra franqueadora.

Enfim, isso tudo nos mostra que se você, assim como eu, se interessou por abrir uma franquia, é essencial o trabalho de busca daquela ideal para você. No meu processo de escolhas fiz uma pesquisa intensa, utilizando muitos filtros até chegar a alguns nomes finais que se adequavam ao meu interesse. E é essa experiência que trarei no próximo post.

Abraços!

* Fonte: ABF, Associação Brasileira de Franquias, dados de 2012.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

A realidade sobre a consulta médica

Este é um pai pronto pra trollar o médico


Olá a todos,

Atrás da mesa do consultório acontecem muitas situações bizarras, além de muita trollação por parte dos pacientes, porém como é a minoria das vezes, as pessoas em geral nem fazem ideia. É verdade que menos de 5%, fazendo uma estatística por alto, dos pacientes são hostis, porém são esses poucos que te desanimam. Isso me lembra recentemente o caso do Corey que decidiu fechar o blog pelo desanimo com os trolls...

Em geral a consulta se compõe de anamnese, que é o período em que colhemos as informações; é a entrevista propriamente dita com o paciente, seguida pelo exame físico do mesmo. Na pediatria, óbvio, a anamnese é com os pais, mas o exame é com próprio paciente. Muita gente me pergunta como eu faço pra aguentar o choro das crianças, mas sinceramente (a não ser que a criança me agrida fisicamente, que me deixa puto, mas deve ter acontecido apenas umas 3 vezes na vida) não me incomodam. Eu entendo que o choro é uma reação natural, advindo pelo medo do desconhecido, de dor etc. Se eu tivesse aquela idade provavelmente faria o mesmo. Além disso, terminado o exame físico, em geral o choro passa, então não tem muitos problemas...

Agora o problema surge que após identificada a doença (ou ausência dela), e explicações devidas, os pais não admitem o diagnóstico e começam a te hostilizar, por vezes te obrigando a passar algum outro remédio. Essa atitude é muito psicopata. Vou dar um exemplo, comum no consultório pediátrico:

Os pais de primeira viagem leva seu neném de 6 meses de idade, preocupado com "ronquerinha no peito". Sem febre, apetite normal, sem tosse, sem cansaço. Você examina o lactente e percebe que não há nada de diferente no pulmão dele, sem sinais de bronquite, porém ele tem uma obstrução nasal cuja passagem do ar emite um som, e que reverbera no peito, fazendo-se sentir também no peito. Nada demais, um soro fisiológico no nariz resolveria o problema. 

Quando você explica a situação aos pais, vira e mexe aparece aquele que fica puto e começa a reclamar. Segundo ele "o soro não vai resolver nada", e o "problema no pulmão do menino?", eu passei 6 anos de medicina (pra eles a residência está incluso) pra dizer isso? Aí eu tento explicar novamente o problema, ensinando até fisica de 2o grau pra ver se a ficha do sujeito cai, porém a cada tentativa de explicação ele fica mais puto, duvidando da sua capacidade técnica, e te obrigando a "passar um xarope", como se o xarope fosse uma benção enviada pelos deuses e resolvessem todos os males. Mesmo tentando mostrar que não podemos passar xaropes pra menores de 1 ano de idade devido ao risco, ele não diminui a insistência, e continua despejando toda sua hostilidade até ver que não vai conseguir mais nada, e deixar o consultório com a criança, fulo da vida.

Aí está, um problema simples de resolver, mas que os pais por ignorância não aceitam. E isso se repete em inúmeras outras situações. Com o tempo reparei que nesses casos, quando os pais já apresentam toda essa resistência, é  melhor nem tentar ficar explicando muito, porque além de não adiantar, costuma deixar os pais mais hostis, porque não gostam de ser contrariados. Agora, a pergunta que fica é a seguinte; se você procurou o médico porque é leigo no assunto, e quer que ele descubra o que a criança tem e resolva o problema, porque quando o profissional te explica a situação, você não aceita? É lógico, repito aqui, são a minoria dos casos, mas são esses que te desanimam... Porque te hostilizam abertamente, te xingam, saem pra reclamar que pagou pra não receber o que queria... Se a criança necessita de um soro no nariz, vou passar o antibiótico só porque quer? Só porque pagou? E os efeitos colaterais, você não se preocupa? E a resistência bacteriana? E mesmo com as explicações, você insiste para que o profissional resolva o "seu problema", e não o da criança?

Isso é muito frustrante, e quando começa a ir se acumulando, te desanimam cada vez mais.... Será que vou passar 30, 40 anos da minha vida fazendo isso? Tentando fazer o melhor pra criança, quando os pais apenas querem o que é melhor pra eles, o que os deixa mais confortáveis? Será que o melhor seria fazer como alguns (muitos) colegas pediatras que passam o "cala a boca" pros pais, prejudicando a criança, só pra eles pararem de "encher o saco"? Não, não vou aturar isso pra sempre. Foi aí que decidi que eu poderia empreender, e ganhar dinheiro de outras formas, sem depender essencialmente da minha atividade médica. E optei por iniciar outra atividade...

Em post futuro explicarei como foi o processo de escolha, as dificuldades e os erros cometidos.



quarta-feira, 21 de agosto de 2013

A verdade sobre a residência médica

Olá a todos,

No 1o post contei um pouco da minha formação e início das atividades de medicina. Esse é sobre a residência médica.

Primeiramente gostaria de contar um pouco sobre o processo decisório de qual residência optar. Eu lembro que durante todo o curso de medicina, e também depois de formado, sempre que alguém novo me conhecia e descobria que eu era estudante de medicina ou médico logo disparava a pergunta: "qual a sua especialidade?" Isso apenas nos mostra como o povo brasileiro exige uma especialidade médica. Essa pergunta sempre me deixava puto porque nunca enxerguei a saúde como algo compartimentalizado.  Para quem não sabe clínica médica é sim uma especialidade médica (exige 3 anos de residência), o médico recém formado é chamado de "generalista" e não "clínico geral".

Se você for num endocrinologista ele só vai querer saber de sua glicemia e TSH, se você disser que está com palpitações no coração ele logo te encaminha pro cardiologista e nem te faz uma ausculta torácica. Se você for no cardiologista e por acaso, além dos problemas de pressão e coração, estiver com problema de azia ou má digestão, ele não vai pedir nenhum exame, vai logo te encaminhar ao gastro. Esse tipo de comportamento, de enxergar a saúde como algo compartimentalizado não é só utilizado pelos médicos mas como exigido pela população. E o que me irritava era que pra mim saúde não é algo segmentado, mas geral. Poxa, então fizesse "clínica médica"! Nem a pau juvenal! Clínica médica é o pior dos dois mundos, porque além de exigir mais estudo, você recebe o mesmo que um generalista recém formado porque ninguém te acha "especial". Seguindo esse raciocínio, a residência que eu acabei optando foi a pediatria. Um dos únicos redutos da medicina que enxerga o paciente  (no caso a criança) como um todo, e não limitado ao órgão que ele estudou. Além disso há bastante mercado para a pediatria, sempre tem alguma cidade ou pronto atendimento precisando do profissional.

90% dos meus pacientes são assim

A primeira dificuldade que novamente tive de voltar aos estudos. Na residencia médica de pediatria, a relação candidato por vaga no meu estado ficou por volta de 15 candidatos por vaga, lembrando que eu disputava todas as vagas com médicos formados, ou seja, uma capacidade intelectual no mínimo razoável. Decidi trabalhar com medicina do trabalho por meio período, na parte da manhã, e passei a estudar de tarde e a noite o conteúdo cobrado para a prova. Depois de 6 meses de estudo acabei passando em um dos locais que prestei (nada fenomenal, foi minha 4a opção).

A residência de pediatria durou 2 anos (outra vantagem pois o resto das residência são a partir de 3 anos). Pra quem não sabe o salário do residente é de R$2.400 brutos, que dava uns R$2.000 liquidos pra 60hs semanais. Lixo, pois até mestre de obras ganha mais do que isso com 60hs semanais, e com muito menos estudo. Fazia então plantão extras (tornando minha qualidade de vida mais lixo) pra complementar a renda. Apesar disso, durante todo o período de residência fui bastante feliz, pois o contato com outros profissionais pediatras me fez crescer não só profissionalmente, mas também pessoalmente. Em geral os pediatras são pessoas fantásticas, e trabalhar numa enfermaria com mais 1 ou 2 colegas é muito recompensador. O ponto chato é a neonatologia.

Os neonatologias não podem ser considerados pediatras, na minha opinião. O fato deles escolherem essa subespecialidade (só lidam com recém-nascidos) só faz corroborar minha opinião: quando trabalhei na neo, praticamente todos os neonatologistas disseram que escolheram estar ali justamente pra não ter que lidar com as mães. Sim, na neonatologia você só vai e avalia o RN, que normalmente está na UTI, e praticamente não conversa com a mãe. Porra, se você não quer lidar com paciente pra que escolher medicina, e mais especificamente pediatria? Vai fazer radiologia, ou patologia, você vai ganhar mais e não ter que ver 1 paciente no resto da sua vida. Os neonatologias são pessoas frias, que adoram xingar as enfermeiras e técnicas da maneira mais imundo, e tratar os RN como "coisas" e não seres humanos. Não se engane, se seu filho estiver no CTI ele estará sendo tratado por um dos maiores lixos já produzidos pela medicina. E não era só no hospital onde fiz residência, pois conheci colegas de 4 ou 5 hospitais diferentes e todos disseram que a neonatologia era a mesma coisa, com os mesmos profissionais lixos. Odiava ficar lá, e foi um martírio sobreviver 2 meses no primeiro ano, e depois mais 2 meses no segundo ano.

No mais, após 2 anos de bastante esforço eu adquiri o título de especialista (sim, agora eu podia citar alguma especialidade quando me faziam a maldita pergunta), e foi uma ótima coisa pois não precisei ficar mais atendendo os velhinhos poliqueixosos, e minha remuneração por plantão melhorou bastante. Mesmo assim, depois de um tempo de pediatria comecei a ficar de saco cheio, não com a especialidade especificamente, mas com a medicina, pois os pacientes no fundo só querem ser enganados... E ficam putos e despejando toda hostilidade possível se você não os engana...

No próximo post mostrarei pra vocês porque grande parte (não é a maioria, mas nos desanima totalmente) dos pacientes só quer ser enganado, e a medicina pode ser extremamente frustrante.

domingo, 18 de agosto de 2013

Morte por alergia é culpa do médico agora?

          Olá pessoal,


           Não dá pra saber exatamente o que aconteceu, porque a gente não estava lá, e nesses casos sempre aumentam a noticia, até inventam coisas que não existiram. De qualquer forma, resumidamente, parece que o RN (recém-nascido) teve uma alergia medicamentosa a dipirona, e evoluiu para óbito. Agora, a questão é a seguinte: se o caso foi somente esse, como processar o hospital pelo fato do RN ter tido alergia? Se partirmos desse principio, ninguém deveria tomar nenhum remédio NUNCA, pois SEMPRE haverá o risco de uma reação alérgica! É lógico que a gente entende que a família fica muito puta porque estava cheio de expectativas com o bebê, e ele vem a óbito; agora despejar toda a frustração em um processo contra o médico, ou o hospital?
           O que me deixa nauseado é que a imprensa adora matérias em que "atribuem a culpa" ao médico ou hospital. Ao mesmo tempo a população se sente estimulado a hostilizar a classe, sem justificativa. Processar por causa de alergia, faça-me o favor! Depois do hospital vão querer processar quem? Vão processar Deus, porque o sistema imunológico da criança era propenso a uma alergia medicamentosa? Se for um médico estrangeiro do programa "Mais Médicos" vão processar a Dilma, ou o ministro da saúde? É lógico que se houve omissão ao atendimento, troca da medicação, aí sim podemos justificar, mas nada disso foi nem citado na reportagem... Pra mim a familia deveria ser processada pelo hospital por processar a entidade sem motivo coerente!
           Vamos despejar a hostilidade nas pessoas certas gente! Depois não entendem porquê vira e mexe nos frustramos com essa profissão ingrata...


sábado, 17 de agosto de 2013

Introdução (sem trocadilhos buaheuhaeueah)

Olá a todos!

Criei este blog com o intuito de interagir melhor com o pessoal que acompanha as comunidades de finanças. Ao mesmo tempo, colocarei aqui um pouco da minha experiencia de vida como médico, e mostrar que apesar de ganharmos bem e nunca faltar emprego, nossa vida pode ser uma merda. Sem hipocrisia. Sem ilusões. A real.

Tenho 30 anos, formei em 2009 em uma federal. Tenho inteligencia mediana pra alta, passei em uma Federal apos 1 ano de cursinho (formação em escola particular). Odeio estudar, sempre odiei, mas como tinha uma inteligencia razoável e nunca tive medo (só preguiça) de sentar a buda em uma cadeira e me sacrificar a um bem maior, consegui essa realização.

Meu pai era peão em uma siderurgia, e minha mãe era professora de escola pública, somos 3 filhos, e por isso sempre tive qualidade de vida aceitável, mas nunca tudo o que sempre quis, até mesmo porque a capacidade financeira da minha família nos atendia no limite. Acho que isso foi bom pois moldou o meu caráter, hoje em dia eu não fico esperando o que o mundo pode me dar, mas sim o que eu consigo tirar dele.

Logo após minha formatura, comecei a trabalhar em um PSF. Pra quem não conhece, PSF é o "Programa Saúde da Família", iniciativa do SUS em desafogar um pouco o atendimento do setor terciário (os hospitais propriamente ditos). A premissa do PSF é boa; imagine um velhinho que quer apenas fazer um "check-up", acompanhar sua pressão alta, ver se tem diabetes... Imagine que antigamente todos os velhinhos tinham que ir a um hospital pra poder fazer isso, sobrecarregando os médicos que além de cuidar das urgências médicas tem que lidar com essas bobeirinhas. Assim, com o PSF, o velhinho pode ir a um "Postinho de saúde" e lá receber seu atendimento primário, pedidos dos exames, receitas, etc. Até aí tudo bem. Agora, pra nós que estamos lá dentro, o PSF depois de um tempo fica insuportável.


Todo mundo feliz esperando a consultinha... Meu posto era 5x mais cheio que isso.

 Primeiro; comparativamente o salario de um PSF não é tão bom quanto se você fosse trabalhar em outras áreas. Hoje eu trabalho uma média de 30 hs semanais e ganho por volta de 12k liquido, no PSF eu trabalhava 40 hs e ganhava 6,4k liquido. Segundo; depois de um tempo o PSF vai cansando muito... Imagine que a função do PSF é um atendimento básico; lá não tem como fazer exames, quando a gente pede o paciente tem que ir até o lugar que colhe o material, ou tira o raio x, ou ainda faz o eletrocardiograma, e só no dia seguinte fica pronto. Ou seja, se você está com suspeita de pneumonia, o PSF não é o lugar pra você. Esse lugar seria a UPA, ou unidade de pronto atendimento, local onde você pode fazer o exame imediatamente, e avaliado pelo médico. Acontece que invariavelmente o PSF se torna um local pra ficar apagando incêndios, e não promover saúde. Passava o dia inteiro atendendo pacientes que iam porque tinham suspeita de pneumonia, suspeita de infarto, abdome agudo... Todos esses pacientes deveriam estar em uma UPA, fazendo os exames, e eu tinha que resolver todos os problemas dele apenas com papel e caneta! Era cansativo e estressante, porque não é fácil (na verdade era impossível) encaminhar todas esses pacientes para o local correto pra eles, eu tinha que fazer o diagnostico com um estetoscópio, e tratar essas doenças sem a medicação, equipe despreparada. Enfim, PSF é uma bomba relógio... uma hora dá merda. Pra quem não é médico, ouvir uma notícia na televisão que "alguém passou mal no meio da rua e foi atendida em um posto mas os médicos não puderam fazer nada e a pessoa faleceu..." Acho que você talvez já ouviu uma notícia assim e ficou puto; porra esses médicos lixos não fazem nada, essa porra de posto de saúde não serve pra nada... Lógico que não, seu merda, lá não tem equipamento, material, medicação... nada!!! O local pra isso é a UPA! Então ver alguém grave na sua mãe, e você sem muita coisa pra fazer, é frustrante.

Cada cidade é de um jeito, cada prefeitura é de um jeito, então pra quem conhece ou é médico verá que na sua região a situação pode ser um pouco diferente. A verdade é que na minha cidade eu tinha 10.000 pacientes adscritos na minha equipe, e eu quase nunca conseguia a transferência dos pacientes graves. Após 11 meses eu não aguentava mais aquilo, e decidi largar e estudar pra residência.

No próximo post contarei como foi minha residência. Abraços!